sexta-feira, 16 de setembro de 2011

[MANIFESTOS] - Geral do Cinema Olympia (Jericoacoara, Junho, 2010)

“Queremos a geral do Cinema Olimpya”


Durante praticamente uma semana, a vila situada na praia de Jericoacoara, no litoral oeste cearense, viveu uma febril efervescência cinematográfica com a realização do I Festival de Cinema Digital, que reuniu cineastas renomados e expressões audiovisuais dos quatro cantos do Brasil. No final, um manifesto amplamente subscrito reivindicou, entre outras sentidas demandas, o merecido lugar do cinema brasileiro no circuito de exibição.


O Manifesto: inspiração

O documento repercutiu de modo atrativo no meio cinematográfico, visto que trata de uma questão crucial para o seu desenvolvimento: a relação com o público, o afastamento ocasionado pela elitização das salas de exibição e os mecanismos voltados para a popularização das obras produzidas. A inspiração foi resumida numa idéia que cala fundo no coração dos amantes do cinema (“Queremos a geral do Cinema Olympia”): uma sala de exibição da Baixa do Sapateiro, em Salvador, celebrizada numa composição de Caetano na voz de Elis Regina (http://letras.terra.com.br/elis-regina/123929/), entre outras inspirações, recebia em suas sessões as classes e camadas da população excluídas da sociedade — que se encontravam nas matinês, envolvendo-se apaixonadamente com filmes de faroeste, comédia e mistério.

“Não quero mais essas tardes mornais, normais
Não quero mais vídeo tapes, mormaço, março, abril...”

A íntegra do Manifesto:

“Durante a primeira edição do Festival de Jericoacoara de Cinema Digital — ocorrida de 09 a 13 de junho de 2010 —, cineastas, intelectuais, estudantes, produtores, cineclubistas, artistas, técnicos e representantes de entidades da área do audiovisual, por ocasião do Seminário "A Tecnologia Digital e o Futuro do Cinema", chegaram à conclusão de que o Cinema Brasileiro somente terá futuro se as obras realizadas pelos brasileiros se tornarem conhecidas dos brasileiros.

Partindo dessa premissa, e para efeito de sistematização, foram diagnosticados cinco problemas cruciais no Brasil, quais sejam:

1. Há, no País, escassez de salas de exibição — que, além de concentradas nas capitais, encontram-se reduzidas à metade das existentes há vinte anos. Como agravante, a grande maioria desses equipamentos se localiza dentro de shoppings — fato que afasta as classes e camadas mais pobres, compromete e desvirtua a natureza do espetáculo cinematográfico, restringindo praticamente sua existência a blockbusters milionários.

2. A cota de tela do cinema brasileiro nas mencionadas salas de exibição, que já chegou a 180 dias anuais, hoje está resumida a vinte e oito dias, impedindo que a grande maioria dos filmes produzidos em nosso País chegue ao chamado circuito comercial.

3. Os filmes de curta metragem — de exibição obrigatória assegurada na legislação —, além de não contar com o reconhecimento e respeito dos exibidores, também não contam com a efetiva fiscalização do Poder Público, limitando sua circulação praticamente ao circuito brasileiro de festivais e à rede de exibição cineclubista.

4. As televisões, notadamente aquelas de perfil público, ainda não possuem uma política que vise, de forma sistemática e contínua, a incorporação nas suas grades de programação das produções qualificadas como independentes.

5. Verifica-se a ausência, na grande maioria dos estados brasileiros, de uma política efetiva e continuada — via editais públicos e outros mecanismos — de apoio ao setor audiovisual nos elos da Produção, Difusão, Formação e Preservação.

Neste ambiente, visando à resolução do leque de problemas verificados, destacam-se as seguintes proposições:

1. A efetivação das propostas de política pública para o setor audiovisual oriundas da Pré-Conferência do Audiovisual e da Conferência Nacional de Cultura.

2. O retorno da cota de tela de 180 dias para a produção brasileira no circuito comercial de exibição.

3. A implantação de rede nas salas de cinemas, a preços populares — com matriz digital —, em todos os municípios e nos bairros de periferia, com garantias de prevalência da exibição da produção audiovisual brasileira.

4. A aprovação e implantação de proposição legislativa que vise à exibição de filmes brasileiros nas escolas.

5. A necessidade de se estabelecer parceria entre o Governo Federal, os governos estaduais e municipais, via editais públicos, que vise à regionalização de verbas de fomento para o setor audiovisual, a exemplo de outras bem sucedidas ações — Programa DocTV, NPDs e Cine Mais Cultura.

6. O reconhecimento pela ANCINE do público que transcende o circuito das salas comerciais, aficionado em cineclubes, escolas, sindicatos, museus, centros comunitários, culturais e outros equipamentos, devolvendo ao cinema sua função social mais abrangente — em contraponto ao critério único de entretenimento e de mercado adotado hoje no País”.



Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=11&id_noticia=131700

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Você sabia???

...que uma boa forma de caprichar em uma programação variada em seu cineclube é participar bastante de fóruns online de apreciação cinematográfica??? Se você manja de inglês e espanhol, vale a pena conferir o site desses muchachos: Portal Cine-Clásico. Lá você baixa de tudo, posta de tudo... e ainda confere maravilhosos artigos sobre cinematografias bem específicas!!! Ó só http://www.cine-clasico.com/